Coisa boa na minha infância e início da adolescência era passar as férias com os avós. Entre as mil recomendações, uma é a mais viva: "quando a mamãe mandar tomar banho pra almoçar ou pra jantar, vá", dizia a minha mãe, falando da vovó.
Pode parecer estranho, mas esse conselho não esqueço. Ao contrário. É o primeiro que lembro quando me vem aquela época. Mas hoje entendo. Se eu conseguisse obedecer nesse ponto (que hoje parece simplório), obedeceria as outras recomendações com prontidão. Mais: se eu não conseguisse obedecer em algo tão simples, quando e com o que conseguiria?
Ora, não dava outra. Quando a gente via que o feijão-com-macarrão estava cheirando na panela de pressão, era bom começar a se arrumar: pegar toalha, sabonete, roupa e disputar o primeiro lugar na fila de primos na hora do banho. Mas sucesso mesmo era se tomasse banho no banheiro "novo", feito dentro de casa, não no "velho", de cimento batido, na parte externa da casa.
No interior - no caso, a União que se transformou em Jaguaruana -, as casas mais antigas só tinham um banheiro. E do lado de fora. Dava medo ir ao local à noite e se deparar com o quintal escuro, comprido e com o silêncio quebrado somente pelos grilos. É porque, também no interior, até cachorro dorme cedo. Como raramente tinha movimentação estranha, os da casa da vovó dormiam como pedra. Só o gato, o Zé Pretinho, é que esperava o final da novela das oito pra dormir. Enquanto isso, ficava se enroscando na cadeira de balanço da vovó, fugindo das cusparadas de fumo que miravam o penico, mas acabavam respingando no chão, no gato e mesmo nas pernas brancas e gordas da vovó.
Voltando ao banho. Antes de fazerem o banheiro novo, não tinha saída. O jeito era se aventurar naquele cubículo escuro, dividir espaço com um sapo gordo que ficava no canto da parede, o mais úmido, e jamais fechar os olhos durante o banho. Pra mim, o perigo era o sapo pular em cima de mim ou a caixa d'água, que funcionava como teto do banheiro, cair sobre minha cabeça. E ainda tinha a escada pra quem quisesse ou precisasse olhar a caixa. Se subi uma vez foi muito, porque tinha medo de, ao olhar a água, me deparar com uma sapo gigante ou algo do tipo, bem tenebroso. Eu e minha memória de terror - mas essa é outra história.
Como até o banheiro novo ficar pronto não tinha alternativa, o negócio era tomar banho ligeiro, vestir a roupa pra ir pra praça e jantar rápido, pra não perder tempo. Sim, por mais ridículo que pareça, na época em que já ia pra pracinha ainda tinha medo das coisas que minha mente inventada.
O fato é que não precisava ouvir os gritos da vovó mandando a gente ir tomar banho. Bastava uma, no máximo duas vezes ela mandar. Depois era só pendurar a toalha no varal do alpendre, do quintal ou do quarto grande. E bem esticadinha, porque se não era grito no meio do mundo.
Obrigada, mãe, vó. Hoje fico doente se deixar a toalha do Isaac em cima do berço, no colchão ou embolada no banheiro. Posso ser desorganizada em um monte de coisa, mas nisso não. E nem me importo quando o marido deixa a dele esticada na cadeira da sala, na porta do quarto. Que que tem? Não está esticada? E ele não tomou banho na hora certa pra poder jantar?
A única coisa diferente, no caso do bebê, é a ordem dos fatores que, nesse caso, pode alterar o produto. Primeiro ele janta, depois de meia horinha toma banho e ainda depois tem peito. Ele ainda não vai pra pracinha, mas é pra dormir cheiroso, limpinho e gostoso, como digo todo dia pra ele. Conselho de mãe. Será que ele vai lembrar?
Uma breve divagação
Há um ano
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