Antes de o bebê nascer, vivia dizendo que não ia ter leite. Minha mãe não teve, na minha irmã desceu pouco, por que comigo haveria de ser diferente? Pois foi. Pra minha surpresa, pra meu total contentamento, foi.
Daquela primeira vez em que ele procurou meu peito meio afobado, sem entender bem o que procurava, mas sabendo precisar e querer, muito leite foi derramado. Nas primeiras mamadas, ainda no hospital, ficava aflita de não ver jorrar o precioso líquido, mas estava determinada a não ceder à latinha.
Puxa daqui, aperta dali, faz careta, pega a cabeça do menino, a cabeça escorrega, a boca acerta, depois escorrega também. E haja choro... Ora, impaciente o rapaz. E faminto. E eram duas em cima de mim, apertando meus peitos: minha irmã e a enfermeira. Uma segurava o peito, enquanto a outra levava a cabeça do Isaac pro lugar certo.
Mesmo com todo o esforço, ainda no hospital ele precisou tomar complemento porque meu leite ainda estava descendo. 30ml. Depois mais 30. Mas só isso. Foi melhor. Só assim ele sossegou, parou de chorar e dormiu. Eu, mais relaxada, vi o peito ficar cada vez mais inchado e riscado daquelas veias bonitas de se ver, verdes, roxas, algo assim. Já não queria mão de enfermeira nem da minha irmã me apertando pra ver se saía alguma gotinha, fora o tal do colostro.
Pois não é que saiu? E saiu e foi saindo e aumentou que não parava mais. Era tanto leite que, quando tomava banho, jorrava. Sujava tudo que é roupa. Aquele cheiro azedo me acompanhava noite e dia.
E tome mamada! E era tanta mamada que, inevitavelmente, o peito ficou todo dolorido, ferido - pelo menos não chegou a sangrar. Passei pomada, o próprio leite, usei protetor com gel, protetor sem gel. Nada amenizava aquela dor fina, que latejava no ritmo e velocidade da mamada.
E só passou quando quis.
Aí chegou a melhor época. Ele mamava tanto e ficava tão saciado que dormia até cinco, seis horas seguidas. Às vezes a gente tinha que acordar o bichinho pra mamar. Mas o melhor de tudo, de tudo mesmo, eram as mamadas da madrugada.
Acho que já falei isso por aqui.
Só eu e ele. O silêncio, aquele olhinho que se fechava devagar de tanto prazer. Era o momento também de agradecer a Deus, de conversar com Ele, de pedir sabedoria pra tomar as decisões certas.
Acho que Ele me ouviu. E tem ouvido até hoje. Nesse mês, o Isaac passou uns quatro dias sem nem querer saber do peito. Nem na hora de dormir. Fiquei na minha, não insisti, mas senti uma pontinha de tristeza. O mundo vai dizer que não, mas a sensação é de que o bebê vai se tornando livre, precisando menos da gente.
Pois bem. Não vou prolongar o sofrimento. Até porque tudo mudou. Há uns três dias ele procurou o peito de novo, naquela horinha sagrada de dormir. Cheiroso, cabelo penteado de lado, pijaminha macio, bubu na boca. Se eu dei?
Claro, óbvio, evidente! Dessa vez acho que quem fechou o olho devagar fui eu. Ele chega levantou o bracinho enquanto sugava.
Sim, agora nossas noites voltaram a ser mais nossas. Se tem leite? Boa pergunta. Mas não vou apertar, fazer exame pra descobrir se tem algum vestígio. Sei é que meu menininho não esqueceu que o alimento mais precioso, mais precioso sai daqui, do lado do coração. Aliás, acho até que o leite, quando está vindo, dá uma voltinha pelo tal músculo e traz na bagagem tudo de bom que a gente quer passar pro bebê. Aquilo que só o coração sabe e que talvez nunca tenha sido dito. Ou escrito.
Uma breve divagação
Há um ano
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