sexta-feira, 17 de junho de 2011

De ser "sensil"

Não se faz um sensível. Ele nasce. Criança, minha prima-irmã saiu com uma pérola que ainda hoje arranca risadas na família. Em uma despedida no aeroporto, falou bem assim: "Maria, tu é tão sensil".

A bichinha quis dizer sensível. Pequena, nem sabia a palavra direito, mas já dominava seu significado. E domina ainda hoje. De alegria, de espera, de saudade, não é raro às vezes em que nos pegamos chorando. Nós duas. Juntas. Basta falar pro nó começar a enrolar na garganta. Temos uma relação muito forte, por isso sempre nos dissemos irmãs.

Falávamos em casar no mesmo dia, ter filhos na mesma época, dividir casa, sonhar planos que se encontravam. Nem tudo se realizou como planejado, claro, mas essa sensibilidade que nos une permanece a mesma, se não mais forte.

Comecei a escrever sem nem pensar nela. Mas foi saindo e deixei.

Na verdade, queria falar que na gravidez a gente fica muito mais sensível que o normal. Hoje, por exemplo, já engoli seco umas três vezes pra não chorar: primeiro de emoção e arrpendimento, em casa; depois de raiva; há pouco de outra emoção bonita causadas pelas palavras de uma amiga; agora, de lembrança.

A gente vive o que pode ser bem próximo de uma montanha-russa. As subidas cheias de expectativa, as descidas lotadas de adrenalina. É o dia inteiro assim. Todo dia. A tranquilidade pintada nas fotos de mulheres acariciando barrigas, com cabelos ao vento e fazendo corações ao redor do umbigo não é de todo irreal, mas é forçada.

Graças a Deus, minha primeira gravidez foi supertranquila, mas cheia de cuidados. Agora também. Alguns cuidados iguais, outros impossíveis de serem repetidos. Mas sempre cuidados.

Não me lembro de ter acompanhado uma gravidez mais atribulada do que a dessa minha prima-irmã. Momento difícil que deixa marcas ainda hoje. Quanto mais a barriga crescia, mais parecia que o tempo estava contra todos. Não pelo bebê, óbvio. Mas porque ele não conheceria a avó. Pra ser mais precisa, nasceu um mês depois de ela partir. Foi e ele ficou. Mas os dois continuam semeando amor: o que não volta, agora transformado em recordações, e o que está sempre chegando, que é próprio das crianças. E chegando com alegria, cheio de cores, de novidades e de descobertas que renovam e também transformam.

Mas como controlar emoções? Todo mundo diz: não vai ter raiva, não se apresse, não abaixe, não faça isso, não faça aquilo, durma, descanse. Mas quem manda na cabecinha da gente? E no sangue que começa a ferver quando a gente menos espera? E no bendito coração, que vive aprontando umas? Ah, coração, o senhor se aquiete. Não vá ter raiva como ontem, não vá se emocionar tanto como hoje tão cedinho, não vá se derramar como passou a noite inteira. Apenas exista. E deixe que tudo se chegue ao seu tempo, porque a moça nem sempre é tão forte quanto parece.

2 comentários:

  1. Ai, a moça não é tão forte quanto parece não, Dona Sensil? Não tem quem diga. I love you, sua bicha. Beijos

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