terça-feira, 26 de abril de 2011

O sentido das não-palavras

Tem gente que se descobre melhor pelas palavras. Há palavras que nos descobrem também, outras que nos confortam, muitas que revelam, outras que mais escondem ao mesmo tempo em que revelam nossos sentidos.

Mas nem sempre precisamos delas.

Meu pitoquinho, por exemplo, mal fala. Diz uns "mamãs" por aí, algo que parece "esse", "abi", "dá", "dê". Mas ele nem precisa das palavras pra me falar ao coração. Nossa linguagem é outra, atravessa o entendimento convencional, nos leva a algo próximo do que se espera ser a compreensão plena do amor.

Ele não precisa esticar os braços pra eu saber que quer colo, não precisa esfregar os olhos pra dizer que está com sono, nem se esticar para ir ao chão em sinal de querer brincar. São seus olhinhos que me antecipam qualquer desejo.

Mas às vezes sou traída. Da melhor forma, registre-se. É quando ele me vem com uma surpresa pra demonstrar carinho e quase dizer "que bom que tenho você". Ele brinca, brinca, cansa, fica suado e de repente chega perto, encosta o rosto em mim (na perna, no braço, em qualquer canto) e sai. É sua melhor maneira de dizer, de novo, "que bom que tenho você". E sem qualquer palavra.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Sobre brincar e viver

Faz tempo que não dou as caras por aqui. Mas não poderia passar de hoje. Dia bom. Monteiro Lobato completaria 129 anos hoje. Por causa dele, hoje é Dia Nacional do Livro Infantil. E, para mim, a data é cercada de afetividade.

Primeiro porque fica entre o dia em que conheci meu amor e o dia em que casamos.

Depois porque minha relação com os livros, em especial da literatura infantil, é muito íntima, é confidencial até.

Não vou me alongar.

Quero só deixar aqui algumas palavras desse professor de infância.

"– A vida, senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem pára de piscar chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme e acorda, dorme e acorda, até que dorme e não acorda mais [...] A vida das gentes neste mundo, senhor Sabugo, é isso. Um rosário de piscados. Cada pisco é um dia. Pisca e mama, pisca e brinca, pisca e estuda, pisca e ama, pisca e cria filhos, pisca e geme os reumatismos, e por fim pisca pela última vez e morre. – E depois que morre?, perguntou o Visconde. – Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?"